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                    ROTA DO SUL - DE SÃO PAULO A PORTO ALEGRE 
                    02-07-1994 
   
                    A rota do sul quase sempre passa por São Paulo. O avião sobrevoa a enormidade  ondulante da capital paulista e de seus arredores, onde erguem-se  edifícios cada vez mais altos em todas as  direções. 
                    A Represa Billings é que marca a transição — aquática e entrecortada de braços  no meio de bosques para a montanha e o mar. Um paredão de cidades e edifícios na  orla marítima, nos rumos do sul. Mancha clara, urbana, em expansão. Guarujá,  Santos, São Vicente, Praia Grande, até Itanhaém. A natureza transformando-se num  verde total, na zona ecológica da Juréia, com seus meandros de rios e mangues  preservados. 
                    Mas logo o avião vaia ganhando altura, entre pequenas nuvens suspensas e  densas.  
                    O litoral paranaense é breve. O catarinense é extenso e caprichoso, desde as  concentrações urbanas de Itajaí e Balneário Camboriú, passando pela grácil e  montanhosa ilha em que está Florianópolis e suas muitas praias.  
                    Aí o avião começa a sobrevoar terra, deixa o mar, em direção a Porto Alegre.  
   
                    Geralmente a chegada se dá pelo oeste, sobrevoando o rio Guaíba. A silhueta da  cidade sobre as águas, na direção sul.  
                    E a enorme ponte e seus viadutos, ao centro, antes do avião pousara no  aeroporto. Mas desta vez a rota foi sobre Canoas, diretamente sobre a pista.  Nada de rio, de paisagem maior. 
                    Não sei se acho Porto Alegre bonita. O centro da cidade sé congestionado, com  ruas estreitas. A Avenida Borges de Medeiros é imponente, com a majestade  própria dos anos 60: edifícios altos, construídos ao lado uns dos outros, como  uma parede de cimento armado. O melhor é o calçadão da Rua da Praia (ou dos  Andradas) com suas lojas e atrações. E a passarela gaúcha, ampliada com a praça  e os edifícios “históricos” do centro, incluindo os Correios.  
                    Zona peatonal, fervilhante de gente, no coração da cidade, completando-se com  um moderno shopping.  
   
                    Desta vez aproveitei uma excursão oferecida pelos organizadores do Seminário  sobre Políticas Leitura do Mercosul, depois das animadas sessões com os colegas  da região. Foi possível conhecer a opulência provinciana do Palácio Piratini  (com as belas pinturas do teto e das paredes executadas pelo célebre Aldo  Locatelli, com motivos da lenda do Negrinho do Pastoreio), os vitrais e  mosaicos da Catedral Metropolitana, a restauração do Teatro São Pedro,                                        e  exposições no belo edifício do Museu de Arte  Contemporânea e a vista da cidade lá de cima do Morro de Santa Teresa. 
                    Mas chovia. Apenas a grandeza do Estádio Beira Rio destacava-se da silhueta  opaca, mais distante, da capital gaúcha, bordeada pelo rio Guaíba. 
                    Melhor ainda foi assistir a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre — a OSPA, em  seu próprio teatro. E voltar a ele para ver o balé Copélia, com a grande  bailarina Ana Botafogo, que estava também hospedada no velho Hotel  Embaixador, aonde eu também estava.  Sua  figura grácil e esguia deslizava pelo restaurante, assediada sempre por  admiradores. Um belo espetáculo.  
    
                    Espetáculo à parte, a estreia no Real.  
                    Sem muita confusão, em clima de Copa do Mundo. A URV (unidade referencial de  valor) cotada dia 30 de junho em 2.750 cruzeiros reais, foi usada para a  conversão da moeda velha para o novo padrão monetário. Valendo mais do que o  dólar... No paralelo, a moeda norte-americana estava sendo comprada por 2.550  cruzeiros reais; agora em menos de um real. Estranhos desígnios da economia... 
                  Tecnicamente, o câmbio “está’ (para não dizer “é”) estável. 
                    
                  O  capitalismo selvagem de sempre, com remarcações de preços abusivas.  Em vez de ambiciosos, nossos empresários são  gananciosos, sem qualquer noção de competitividade (para não falar de  sensibilidade social, que parece não terem...) 
                    É esperar para conferir. Todos os partidos de oposição — e estamos em período  eleitoral — estão torcendo contra. Só falta que as esquerdas apoiem os  oligopólios para destruírem o Plano. É óbvio que a intenção não é perversa, em  princípio, mas a confluência de interesses aproxima até os contrários.  [Por certo, nestas eleições, os candidatos —  da esquerda à direita — estão prometendo as mesmas coisas, demagogicamente:  empregos, crescimento, segurança, comida e educação. A diferença de um  candidato para o outro está nos números...   Um oferece  
                    5 milhões de novos empregos, o outro reage oferecendo 8 milhões. Mas ninguém  explica de onde vêm ... 
                    E as alianças são sempre espúrias! 
   
                    O Fernando Henrique abraçou o PFL e o Antonio Carlos Magalhães (que  abominava); o Brizola namora com o ladino do Quércia (certamente,  com asco); e o Lula sonha com o apoio do Sarney. Vale tudo. 
                    Em eleições “casadas”, em que o eleitor é muito influenciado pelo apoio local  (do candidato a deputado, a governador) na hora do voto, as alianças são  fundamentais. 
                    E serão tanto ou mais fundamentais depois do segundo turno, pois o presidente  eleito só conseguirá governo por coalisão partidária, para arrancar o apoio  parlamentar ao seu programa de governo. Nenhum presidente eleito terá mais de  um terço de força no legislativo. Para a coalisão vai ter que negociar até o  próprio programa de governo, e seus cargos. Na prática, valendo este princípio,  qualquer eleito vai acabar fazendo mais ou menos o mesmo tipo de governo,  controlado que estará pela Constituição, pelas leis vigentes e pela vontade do  Congresso Nacional, pois vivemos num parlamentarismo camuflado de  presidencialismo. 
                
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